O silêncio é um verbo a proclamar reflexão. O olhar
cansado, batalha contínua, num íntimo tempo restante. Nas rugas
conquistadas, passeiam sonhos passados, perfazendo memórias de
exaustivas batalhas. Já não vê mais o garbo orvalho a cobrir as pétalas
do seu jardim. Clama, mutilando em seu tempo uma única espada a
preencher o vazio de seu constante cansaço. As mãos que hoje dançam sem
música, vestem a farda de manchas não desejadas. O velho homem, que um
dia fora notável, hoje verbaliza seu silêncio na companhia das fotos que
somente ele vê. Ele fora amado, menino, seu moço, seu doutor, seu zé e
seu ninguém. Hoje ele é apenas “seu”. Mas de quem? Ele não quer ser do
passado, ele não deseja mais nenhum futuro. O único presente seria a
foice cortando-lhe o pescoço ou o tempo vindo acertar suas contas. Ah,
tempo… Patife traiçoeiro que prometera-lhe segundos de eternidade na
mocidade. “Deixe isso para depois, você tem todo o tempo do mundo”. O
mundo existe agora. O depois pertence ao cemitério dos atrasados. Então
que seja breve… A morte ou a vida. Que seja breve.
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